Quando o Rolls-Royce e o Bentley Corniche foram apresentados em março de 1971, o nome já era familiar no vocabulário da companhia. “Corniche”, palavra francesa que designa uma estrada costeira, havia sido utilizado em 1939 para batizar um único protótipo da Bentley. Décadas depois, esse nome se tornaria sinônimo de luxo absoluto e elegância na indústria automotiva britânica. O Corniche foi uma evolução direta do Rolls-Royce Silver Shadow e do Bentley T1, em versões coupé e cabriolet mais refinadas e individualizadas que o sedã. Desenhados pelo inglês John Blatchley e pelo americano Bill Allen na Mulliner Park Ward – renomada divisão de carrocerias da Rolls-Royce, sediada em Londres -, esses modelos introduziram tendências modernas ao design da marca, sem abandonar sua essência tradicional. Produzidos artesanalmente, seu processo de montagem demandava cerca de 20 semanas, oito a mais do que o necessário para a versão de quatro portas. Apenas a instalação da capota elétrica, nos modelos cabriolet, levava aproximadamente uma semana, evidenciando o alto padrão de acabamento. O sucesso dessas variantes exclusivas impulsionou o início do chamado “Project Gamma”, a designação interna da companhia para renomear os modelos e consolidar sua identidade no mercado.

Entretanto, o lançamento do Corniche ocorreu em um momento de grande dificuldade para a Rolls-Royce. Apesar do sólido e lucrativo desempenho da divisão de automóveis, fortemente alavancado pelo sucesso do Silver Shadow, a divisão aeronáutica enfrentava uma grave crise financeira. Em fevereiro de 1971, após a infame “Black Thursday”, a Rolls-Royce tornou-se a maior falência corporativa da história britânica no pós-guerra. Foi uma surpresa, portanto, quando no mês subsequente jornalistas britânicos foram convidados a voar para Nice, na França, para a apresentação oficial de um novo modelo. O Corniche foi um sucesso imediato, reforçando a reputação da marca como ícone do luxo e da sofisticação, mesmo em tempos adversos.

O Corniche representava mais do que uma simples mudança de nome. O modelo trazia o consagrado motor V8 de 6.75 litros, com estimados 220 hp, um interior redesenhado com amplo uso de madeira nobre e couro de alta qualidade, além de detalhes como uma grade de radiador mais profunda e acabamento exclusivo nas rodas. O câmbio escolhido foi o TH 400, automático de 3 marchas, junto a uma suspensão independente com autonivelante hidráulico, produzido pela Rolls Royce sob licensa. Em 1977, os Corniches receberam injeção Bosch KE/K-Jetronic, aumentando seu desempenho para 237 hp e alcançando cerca de 190 km/h. Essas mudanças acompanharam novos parachoques com acabamento de borracha, uma caixa de direção redesenhada e suspensão traseira ajustável. Desde seu lançamento, o Corniche ocupou a vanguarda tecnológica da marca, apresentando ao público inovações que saiam da fábrica de Crewe, como por exemplo, o piloto automático.

Nosso Bentley Corniche foi encomendado em 21 de março de 1981 pelo Sr. Robert Morris, na configuração Brewster Green com linhas duplas douradas, interior em couro Connolly bege e carpetes de lã marrom, além de capota em tecido bege. Equipado com todos os opcionais de fábrica, incluía o raro e cobiçado “Cocktail Requisites”, um jogo de copos e garrafa de cristal. Após um ano e seis meses de espera, o carro foi entregue em Nova Iorque em 28 de setembro de 1982 — um período maior que a média de oito meses necessária para a  abricação artesanal de um Corniche. Embora milhares de Rolls-Royce Corniche tenham sido produzidos, uma quantidade ínfima de 138 exemplares do Bentley Corniche saíram da Mulliner Park Ward de Londres, sendo 74 na versão conversível e 64 coupés. Destes conversíveis, apenas dois estão em solo brasileiro, sendo apenas um deles operacional.

Robert “Bob” Morris, nascido em Nova Iorque em 7 de maio de 1923, foi um magnata da indústria publicitária norte-americana. Formado em música pelo Conservatório de Música de Detroit e pela Wayne University, Bob revolucionou o mercado publicitário com a criação do Broadcast Advertisers Reports, Inc. (BAR), um padrão de pesquisa para monitoramento de comerciais de TV e rádio que dominou o setor. Ele atuou como CEO da empresa por mais de 20 anos. Apaixonado por aviação, fundou, em 1968, a Flight Department, Inc., uma das primeiras operadoras de voos charter nos Estados Unidos. Bob faleceu em 28 de junho de 2018, aos 95 anos, e o carro foi adquirido de sua esposa Linda em 2019. Quando contactada pelo atual proprietário anos após a compra, Linda reagiu perguntando: “Which one?” Ao saber que era o Corniche conversível verde, comentou: “Oh, that is the only Bentley he never sold.”

Após sua aquisição nos Estados Unidos, o carro foi importado para o Brasil e submetido a uma revitalização por especialista em Rolls-Royce e Bentley em Curitiba. Hoje, o Bentley encontra-se em estado impressionante de conservação e funcionamento, sendo regularmente utilizado em viagens pelo atual proprietário. Acompanha toda a documentação original, incluindo manuais, arquivos de construção e testes do RREC (Rolls-Royce Enthusiasts’ Club) e notas do serviço que foi realizado. O nada usual conjunto de “Cocktail Requisites” apresenta-se completo e em excelente estado. O interior se encontra em estado excepcional e uma capota nova foi importada e instalada no Brasil. Acompanha com pneus Avon de faixa branca novos, conforme especificação de fábrica. Este Bentley é um carro raro no mundo todo e atende aos mais altos padrões exigidos por colecionadores.